O estranho monólito que
compõe a Pedra do Ingá é conhecido praticamente desde a descoberta do
Brasil, pois sabe-se que o mesmo foi citado pela primeira vez em 1.618,
no livro Diálogos da Grandeza do Brasil, atribuído ao português
Ambrósio Fernandes Brandão que, segundo os historiadores, se trata de
uma obra excepcionalmente carregada de sentido doutrinário e ufanista. É
provável que este monumento tenha seu lugar reservado entre os mais
intrigantes enigmas arqueológicos já descobertos em nosso planeta. É
sabido que se trata do maior, mais complexo e mais misterioso conjunto
rupestre que reporta a um passado desconhecido e carrega consigo uma
grande quantidade de caracteres e signos ainda por serem decifrados.
Esta colossal pedra cifrada está localizada no Estado da Paraíba, na
Serra da Borborema, município de Ingá, às margens do rio de mesmo nome,
antigo Bacamarte, a 85 km de João Pessoa e a 35 km de Campina Grande. Na
época das chuvas este grande monólito fica parcialmente encoberto pela
água e no tempo seco pode ser visto em sua totalidade, além de que o
leito do rio fica completamente seco, com apenas algumas poças d’água
espalhadas em quase toda a sua extensão.
Como o acesso deste
importante monumento arqueológico paraibano é relativamente fácil,
afirmamos com tristeza que o mesmo vem sendo destruído através dos
tempos por vândalos e exploradores de relíquias arqueológicas, correndo o
risco de ser irreversivelmente inutilizado para futuras pesquisas e
análises mais acuradas de seu conteúdo lítico. Mesmo assim, a Pedra do
Ingá continua sendo um magnífico mistério, constituído de um grande
monólito de granito assentado sobre o leito do Rio Ingá, com cerca de 23
m de comprimento e altura aproximada de 3,50 m na sua parte mais alta.
As inscrições da Pedra
do Ingá se estendem por todo o seu dorso vertical, numa extensão de
aproximadamente 16 metros. São, de fato, de uma estranheza indescritível
e somente vendo-as de perto é que podemos perceber a complexidade de
seus talhes bem elaborados e deduzir que, quanto mais tentamos retroagir
no tempo para atribuir aos caracteres deste acervo arqueológico uma
explicação simplista, de que teriam sido produzidos por povos primitivos
ou indígenas, por exemplo, mais estes se distanciam de uma realidade
palpável e mais seu mistério se densifica.
Pensa-se que suas
insculturas foram executadas por meio de algum tipo de instrumento
pontiagudo, que teria sido manipulado por homens daquela época,
semi-bárbaros, até produzir os baixos relevos que ali se acham
incrustados. O que não se pode explicar, entretanto, é que estes signos
possuem um acabamento primoroso, como se tivessem sido elaborados por
métodos muito avançados e não, simplesmente, por intermédio de pancadas
ou ranhuras na pedra com ferramentas comuns. Definitivamente, este
magnífico trabalho não poderia ter uma explicação tão destituída de
imaginação como a que lhe é dada por alguns pesquisadores e não pode,
simplesmente, estar ligado a tradições corriqueiras de povos que,
sequer, possuíam alguma forma de escrita.
Por outro lado, não se
tem notícia de que haja em outro lugar, no Brasil ou fora dele, um
conjunto de inscrições rupestres que possam assemelhar-se ao deste
monumento arqueológico da Paraíba, tal é a sua excepcionalidade e sua
condição desafiadora, tanto em relação à sua forma e métodos utilizados,
quanto à sua complexidade e execução de sua vasta petrografia. Além
disto, suas insculturas parecem ter sido rigorosamente planejadas,
traçadas e executadas, criando assim uma certa dificuldade junto aos
estudiosos que pretendem transformá-las simplesmente em arte primitiva
ou atribuir a sua feitura aos antigos trogloditas que teriam vivido
naquela região. Pode-se dizer que este formidável mistério paraibano
distancia-se, inequivocamente, de tudo aquilo que tem sido regularmente
encontrado e pesquisado em outros locais do mundo no âmbito da
arqueologia, constituindo-se de algo verdadeiramente ímpar no estudo
arqueológico, e, até mesmo, podendo se dizer que de trata de uma
incômoda “pedra no sapato dos pesquisadores”.
Desde a chegada dos conquistadores europeus ao Brasil que as itacoatiaras (pedras pintadas em
tupi) têm sido encontradas e o questionamento sobre a sua origem teve
início. Os antigos indígenas que habitavam estas terras (e mesmo os dos
dias de hoje) sempre foram unânimes em afirmar que seus autores não
foram os seus antepassados e que aqueles que as “escreveram” pertenceram
a um passado bem longínquo, quando ainda havia livre convivência entre
os homens e os deuses. Houve ainda quem veiculasse uma lenda a dizer que
no interior da pedra se encontrava encerrado um grande tesouro, levando
muitos vândalos e gananciosos em busca de riqueza fácil a tentarem
quebrá-la, sem êxito, tirando-lhe apenas algumas lascas e danificando-a,
irreversivelmente.
Detalhes dos enigmáticos caracteres da Pedra do Ingá.
À sua volta podem ser
encontrados signos variados e outros enigmas a serem solucionados. Os
estranhos e incompreensíveis caracteres semelhantes a ideogramas que ali
podem ser vistos, espalhados por diversos lugares, possuem
características, aparentemente, muito diferentes entre si. Alguns destes
já se encontram bem desgastados pelo tempo, enquanto que outros podem
ainda serem vistos com grande nitidez, como se tivessem sido fundidos na
pedra. O leito seco do rio mostra inúmeros orifícios escavados na rocha
em todo o seu percurso e se tratam de marcas deixadas pelo movimento da
água em redemoinhos. Assemelham-se a bacias médias e pequenas e muito
lisas, devido ao movimento contínuo da água. Porém, existem alguns
poucos destes orifícios, com um diâmetro de, aproximadamente, 20
centímetros e uma profundidade de uns 40 centímetros, que parecem ter
sido feitos com uma grande broca metálica, tal a precisão com que foram
escavados. Suas paredes são lisas, com ranhuras, semelhantes aos dos
furos que são feitos por equipamento metálico cortante e se diferem
muito dos outros que se encontram por ali, mais rasos e deformados.
Enquanto que os demais permitem que se possa ver a atuação da água
corrente, estes outros não guardam as mesmas características e, a nosso
ver, não podem ser assim considerados, como resultado de simples erosões
da água sobre a rocha.
Do lado oposto à
itacoatiara do Ingá, vamos encontrar um outro mistério. Existe ali uma
pedra deformada de cor acinzentada, como se tivesse sido amassada, da
mesma forma como o fazemos com o barro, contendo diversos caracteres
gravados em seu dorso. Na sua parte superior esquerda, há uma depressão
semelhante a um pé, como se alguém tivesse pisado ali, enquanto ela
ainda estava mole, deixando uma marca bem profunda. Além disso, ela
emite um sonido semelhante ao do sino quando é tocada com uma pedra e
este som pode ser ouvido, até mesmo, se batermos nela com o nó dos
dedos. Parece oca e emite um som metálico.
Toda esta região está
coberta de enigmas desta natureza, além do maior deles que é a própria
Pedra do Ingá e sabe-se que nas redondezas e em outros lugares mais
distantes existem diversas outras inscrições de caráter estranho,
monumentos megalíticos e histórias variadas sobre cada um deles.
Como já dissemos, em
todo o leito do rio podem ser encontrados muitos caracteres de cunho
desconhecido, que fazem com que o espectador se pergunte qual teria sido
a importância de tudo aquilo para seus idealizadores e artífices ou
qual teria sido seu significado. Considerar, simplesmente, que os
agrupamentos humanos na antiguidade não tinham nada com que se
preocupar, senão ficar “desenhando” em pedras e esculpindo em rochedos, é
por demais destituído de criatividade e bom senso, considerando-se que,
em determinados lugares, como na região do Ingá, por exemplo, tais
demonstrações de “vagabundagem” são por demais complexas, carregadas de
simbolismos expressivos, chegando, até mesmo, a alcançar uma certa
exuberância inexplicável. Assim como pode ser observado nas culturas
Marajó e Tapajós, em sua complexa simbologia e arte, um esmerado cuidado
artístico e lógico, também aqui no monólito do Ingá vamos constatar o
cuidado de seus construtores, que se reflete perante os pesquisadores
como um sério problema a ser resolvido. É inegável que o tipo de cultura
que teria sido responsável por este enigmático trabalho rupestre se
coloca num grau muito superior ao de outros “trabalhos” líticos,
regularmente encontrados em outras regiões e para alguns estudiosos
seria mais cômodo se registros como estes jamais tivessem existido.
Seria lícito afirmar que
tais caracteres tivessem sido produzidos por vias naturais, como
erosão, segundo alguns ou através de aranhões na pedra com ferramentas
rudimentares?
Sabe-se que os índios
cariris que habitavam na Serra da Borborema, próximo do Ingá, não
possuíam um nível de cultura compatível com o grau de dificuldade que
estas insculturas apresentam e não conheciam esses qualquer rudimento de
escrita, apesar de terem uma vida bem mais longeva do que outros povos
que ali viviam. Os pajés de sua tribo eram exímios em trabalhos de magia
e ritos desconhecidos. Diziam que seu povo se originou de uma tribo de
homens sábios que teria vindo de um lago encantado (seriam atlantes?).
Quanto à Pedra do Ingá, diziam apenas que seus escritos estavam
relacionados ao deus Tupã.
Já foram levantadas
várias teorias sobre as enigmáticas inscrições da Pedra do Ingá, como
por exemplo, o caso de Léon Clérot, que sugeriu que se tratassem de
representações de plantas estilizadas, de figuras humanas, de animais e
outros sinais desconhecidos. O arqueólogo Alfredo Coutinho Menezes disse
tratar-se de figuras zoomorfas, dentre as quais se destacam pássaros e
répteis, figuras fitomorfas como o abacaxi e espigas de milho. Mais
recentemente, a itacoatiara do Ingá, foi estudada por Jacques Ramondot,
que descobriu numa rocha no leito do rio, um conjunto de inscrições, bem
desgastadas pelo tempo e pela água corrente, que entendeu ser o esboço
de uma constelação. Esta representação assemelha-se a estrelas e mostra
pontos interligados entre si, como num mapa, além de incluir outros
signos, como uma espécie de serpentina e um disco, tipo solar, que
parecem fazer parte do esquema astronômico.
Existem também algumas
teorias estranhas a respeito das insculturas da Pedra do Ingá. Uma
primeira afirma que aqueles sinais não passam de sulcos naturais na
rocha, produzidos pelo tempo e suas variantes (chuva, vento, calor
etc.). Para quem conhece este monumento lítico esta teoria seria
classificada de, no mínimo, inapropriada, pois qualquer pessoa (mesmo um
visitante comum) pode notar que se trata de um trabalho executado por
mãos humanas ou um tipo de tecnologia que desconhecemos.
Uma segunda teoria
afirma tratar-se de obras produzidas por indígenas ociosos que habitavam
a região, que traçavam aleatoriamente riscos para indicar caminhos e
outros sinais sem grandes preocupações de manterem coerência nas suas
reproduções. Diante da complexidade das insculturas não podemos também
concordar com esta teoria, que se apresenta pouco realista e
radicalmente simplista para explicar algo de tamanha notoriedade.
Uma terceira teoria,
ainda mais absurda, afirma que os signos da pedra lavrada do Ingá não
passam de sulcos produzidos por amolação de facas e ferramentas
indígenas, esquecendo-se seu formulador de verificar que certos
caracteres se encontram a uma altura superior à de um homem comum. Esta
condição obriga-nos a justificar que a precisão das formas insculpidas e
a integridade de seus contornos, por si só, já desmoralizam esta tese,
ainda que sejam observadas por um leigo em arqueologia.
Uma quarta teoria
considera que aqueles signos tenham sido produzidos por visitantes
europeus e asiáticos que teriam chegado até as Américas e se
incursionado pelo seu interior, antes de Colombo e Cabral.
Há ainda uma quinta
teoria, bem mais moderada, que relaciona estes signos a uma civilização
bem mais remota e muito mais avançada, que teria vivido em terras
brasileiras e se preocupado em deixar gravado em pedra uma mensagem para
as futuras gerações.
Paralelamente, também
existe aquela teoria de que tais caracteres sejam de origem alienígena,
registros pétreos de uma raça extraplanetária que aqui esteve em um
passado distante e que teria feito estas gravações em seu dorso,
apresentando certos aspectos de seus conhecimentos intergaláticos.
Como referência de uma
avaliação séria a respeito deste monumento, podemos citar o pesquisador
Luiz Galdino, que preferiu tratá-lo com a reverência que ele merece no
cenário arqueológico, assim como aos seus caracteres desconhecidos.
Destacamos o seguinte em sua obra Itacoatiaras – uma pré-história da arte no Brasil: “A
pedra do Ingá, com seus relevos de acabamento esmerado destaca-se,
imediatamente, como um exemplo ímpar, diante do vasto acervo de
itacoatiaras espalhado por todo o país. As inscrições são gravadas em
baixo-relevo, mediante sulcos largos e profundos. Nos pontos melhor
conservados, percebe-se, ainda, vestígios de uma antiga pintura que
recobria o fundo dos sulcos”.
E ainda: “Os signos
estilizados ao extremo supõem um prolongado período de evolução e
aprimoramento. Estranhamente, esse signário mostra-se único. Mais fácil
imaginá-lo como a obra de um povo estranho que atravessou a região, não
deixando outros testemunhos, do que pensá-lo como a evolução natural a
partir dos exemplares mais primitivos existentes no resto do país”.
Conjunto de insculturas modeladas da Pedra do Ingá.
O certo em tudo isto é
que a Pedra do Ingá tornou-se presença viva e surpreendente no cenário
arqueológico do nordeste brasileiro, como se se tratasse de algo que não
pudesse estar ali onde se encontra, com seus caracteres
incompreensíveis e desafiadores. Se os compararmos com outros da própria
região, estes se fazem tão irreais e absurdos, que não deixam de causar
grande incômodo no meio acadêmico, diante da cultura vigente e dos
rígidos conceitos de análise, que não podem permitir que nenhum
acontecimento no passado da Terra possa se colocar fora dos padrões
pré-definidos de verificação e classificação científica.
Acreditamos, seja esta,
talvez a causa de nosso estarrecimento diante de “realidades” que, como
estas, se apresentam muito mais como ficção do que como possibilidade e
muito mais como um desafio inadmissível com a chancela de inexplicável,
do que como algo que precisa ser encarado sob uma nova perspectiva de
pesquisa e análise, e de uma percepção mais acurada desta realidade.
A Pedra do Ingá é, sem
dúvida, um dos mais expressivos registros rupestres do Brasil perdido
nas caatingas paraibanas e o maior testemunho silencioso de que em
passado longínquo o solo brasileiro teria sido palco de uma cultura
avançada que registrou ali parte de seu conhecimento perdido. Desta
forma, podemos tomá-la como prova de que já tivemos uma escrita
pré-histórica no Brasil, face à expressividade e à coerência de seus
signos, aplicados magistralmente lado a lado, apesar de aparentarem, em
princípio, uma certa descontinuidade e desordem.
Temos convicção de que
ela esconde uma chave para sua compreensão e que a mesma se encontra
ali, interagindo com seus demais caracteres. Resta-nos descobri-la.
Outro fator que teríamos de acalentar é que sua análise terá de
considerar as condições que estabeleceram a lógica de sua feitura, na
época em que foi lavrada e artisticamente insculpida, pois estas
deveriam ter sido muito diferentes das que temos hoje para estudá-la e
compreendê-la, o que expõe um novo empecilho para identificação de sua
chave e sua decifração.
Acreditamos que tal
condição e grau de dificuldade se devem muito mais ao fato de querermos
compreendê-la com o raciocínio atual e o conhecimento que possuímos
hoje, sem nos atinarmos em procurar aprofundar no tempo (como no caso
das interpretações dos códigos maias e egípcios) para buscar a forma
como aqueles povos entendiam a vida na Terra e observavam o céu, os
astros, os planetas, as estrelas, as estações do ano, as variações do
tempo e as mudanças provocadas por estas variações. Um mesmo signo ou
ícone que usamos regularmente hoje, aceito e compreendido por quase toda
a população da Terra poderia, em futuro distante, significar um grande
enigma para os estudiosos, por estar o mesmo muito distante de seu tempo
e por tentarem aqueles analisá-lo sob sua ótica, seus conhecimentos e
suas perspectivas.
Estas magníficas
insculturas ou moldes na pedra foram feitas em baixo relevo, em sulcos
largos e profundos, tipo meia-cana, com o objetivo, talvez, de fazê-los
perenizar no tempo, o mais longe possível. Seriam ícones de um tempo
perdido no passado da Terra? Ou seriam apenas parte de um conhecimento
milenar esquecido pela memória dos povos?
Segundo os pesquisadores
podem ainda ser encontrados vestígios de que estes signos estiveram
cobertos por tinta para, certamente, fazê-los destacarem-se a grande
distância. As formas gravadas na pedra são variadas e algumas de grandes
proporções, assemelhando-se muitas delas a figuras zoomorfas e
antropomorfas, como já foi dito, algumas geométricas, apresentando,
porém, na sua maioria, estruturas de cunho desconhecido. No entanto,
todas elas foram elaboradas com alto grau de complexidade e cuidado.
Diante da excentricidade
deste painel lítico torna-se difícil não considerarmos que possam vir
tratar-se de uma espécie de escrita, pictográfica ou ideográfica, uma
vez que seus signos são estranhamente estilizados, o que exigiria um
longo estágio de evolução e aprimoramento, além de conhecimentos
específicos para serem reproduzidos. Sabe-se que a pictografia
representa o estágio mais primitivo da escrita, de forma que cada
elemento deste sistema constitui-se no próprio pictograma. Este, por sua
vez, não é outra coisa que senão a reprodução de um desenho
auto-explicativo e de significado próprio, que está ligado à sua própria
forma. Por outro lado, o ideograma amplia este contexto na
representação de sua simbologia, de forma que, enquanto na pictografia
um círculo significa somente o Sol (por exemplo), no ideograma este
poderia simbolizar um atributo do Sol, como a luz e o calor, ampliando o
grau de percepção de um signo.
Diante do elevado grau
de dificuldade para compreensão dos signos milenares do Ingá, faremos a
seguir uma breve exposição de algumas teorias de pesquisadores
brasileiros, que se preocuparam em debruçarem-se sobre sua vasta
simbologia, numa tentativa de compreendê-la integralmente. Ao final, na
3ª parte, destacaremos o trabalho do grande pesquisador Gabrielli
Baraldi e incluiremos a opinião do autor deste estudo e suas
observações, após sua visita a este esplêndido monumento arqueológico
brasileiro.
AS PESQUISAS DE GILVAN DE BRITO
Em primeiro lugar
queremos citar o pesquisador Gilvan de Brito e seu livro “Viagem ao
Desconhecido – Os Segredos da Pedra do Ingá”, que tendo o cuidado de
incluir em seus estudos outros registros rupestres de relevante
importância no estado da Paraíba. Neste seu magnífico trabalho emite a
idéia de que no espaço compreendido entre o mar e o Planalto de
Borborema, pode ser encontrada uma grande profusão de material lítico,
pictográfico, ideográfico, dolmens, muralhas de pedra e outras
evidências que indicam a passagem de grupos humanos pela região, povos
que tiveram um certo grau cultural que os permitisse gravar em pedra
bruta caracteres sofisticados e erigir “construções” com características
notadamente megalíticas.
Quando Gilvan diz que “o
maior e mais importante sítio arqueológico do Brasil localiza-se,
provavelmente, na Paraíba,” haveremos de concordar com ele, pois quando
ali estivemos pudemos ter esta mesma impressão e depois de compará-la a
muitos outros, reforça-mos ainda mais esta convicção. Assim como outros,
também este autor sugere que as inscrições do piso, ao lado do painel
vertical do Ingá, possa fazer referência a conjuntos constelatórios,
apresentando objetivamente seu pensamento em relação àqueles traçados
geométricos com a Constelação de Orion, Peixe Austral e Grus.
Seu estudo, entretanto,
se detém mais demoradamente no grande painel vertical, devido à sua
profusão de símbolos, pontos capsulares e ideogramas, além da sua
notável expressividade, delicadeza dos traçados e dos cortes das
insculturas, e sua estranheza. Apesar de os arqueólogos atribuírem a
estes signos, quase sempre, classificações mais comuns, como zoomorfas,
fitomorfas, cosmogônicas, fálicas e antropomorfas, Gilvan acredita que
os mesmos possam ter um significado bem mais contundente. Acena que a
Pedra do Ingá poderia ter sido insculpida com apurada técnica e um
conhecimento específico de seus autores, pois a linhas inicialmente
traçadas foram, posteriormente, gravadas na rocha com fino acabamento e
polimento “lembrando perfurações realizadas através de modernos
equipa-mentos de raio laser”, conforme comenta.
Há uma variedade de
formas gravadas neste painel principal como linhas retas, pontilhadas,
espirais, canais paralelos, curvos, circulares e lineares, mas não se
podem ver, conforme observa, figuras triangulares nem ornamentais.
Segundo pensa, tratam-se de símbolos que tentam materializar uma idéia
específica, pois encontrou traços significativos que fundamentam tal
pensamento, formas silábicas e ideográficas que procuram “uma função
determinada na comunicação escrita”. Neste sentido destacou alguns
caracteres (exemplificados no quadro abaixo), para aventar a hipótese de
que somente uma forma de inteligência, é que poderia ter criado aquele
painel ordenado de mensagens cifradas, certamente, com a finalidade de
levar até o futuro as impressões culturais de seu povo. Abaixo
apresentamos quadro com exemplos da classificação tipológica comentada
por Gilvan de Brito.
Para Gilvan de Brito as
insculturas gravadas em Ingá devem ter sido obra de um povo que aqui
teria vivido em passado longínquo, onde cada componente desta raça teria
oferecido sua contribuição para a feitura deste magnífico conjunto
lítico. Para ele, a comunidade impulsionada pela visão do artista que
havia idealizado o painel incumbiu-se de rasgar a pedra já marcada pelos
contornos riscados por sua mão hábil e deixar para posteridade o
primoroso resultado de seu trabalho. Com cuidado analisa os signos em
separado, comparando a figura esguia do início do painel (em sua parte
mais alta) à uma balança rústica, sugerindo, até mesmo, que a Pedra do
Ingá venha a ser um túmulo de um ilustre visitante que teria ensinado
aos moradores da região novos conhecimentos.
Gilvan faz uma
interessante ligação entre a Pedra do Ingá, as pirâmides de Queops, no
Egito, e Theotihuacan, no México, com a possível localização da
Atlântida. Traçando uma linha reta entre as duas grandes pirâmides, do
Egito e do México, e dividindo o Trópico de Câncer exatamente no meio,
entre as duas pirâmides citadas, traça uma linha vertical, tendo abaixo a
localização da Pedra do Ingá e acima, próximo à Groelândia, a
localização da desaparecida Atlântida (ver ilustração abaixo). Tal
interpretação não nos parece inconcebível, porque também acreditamos que
existe uma estreita relação entre este lendário continente
desaparecido, o antigo Egito e os povos Maias. Por que não incluir a
Pedra do Ingá e sua complexa simbologia neste contexto histórico ainda
por decifrar, principalmente, se podemos observar esta situação
emblemática entre os mesmos?
Gilvan cita outros
pesquisadores que alegam que tais inscrições teriam sido feitas por
habitantes indígenas da região. Entretanto, discorda dos mesmos, não
reconhecendo que as gravações do Ingá tenham, sido produzidas pela
ociosidade e o espírito brincalhão e esportivo dos índios brasileiros.
Avançando em suas pesquisas e utilizando-se de observações feitas na
seqüência de pontos capsulares no alto dos signos insculpidos e nas
representações que lembram a lua, elaborou estudos numéricos e
analíticos, chegando a conclusões muito interessantes que gostaríamos de
destacar.
ITENS ANALISADOS | POSIÇÃO OFICIAL | POSIÇÃO LEVANTADA |
Ano Solar | 366 dias (ano bissexto) | 366 |
Ano Lunar | 354 dias | 342 |
Velocidade Orbital | 3.700 km/h | 3.660 |
Perigeu (menor distância entre a Terra e a Lua) | 356.375 km. | 366.000 |
Apogeu (maior distância entre a Terra e a Lua) | 406.720 km. | 408.000 |
Raio da Lua | 1.700 km. | 1.710 |
Inclinação da Órbita | 5,1454º | 5,9 |
Inclinação em relação ao equador terrestre | 23,5º | 24 |
Distância Terra-Lua (eixo a eixo) | 384.500 km. | 380 |
Medida do PI | 3,14 | 3,18 |
Diâmetro do equatorial da Lua | 3.476 km. | 3.473 |
Área da Lua | 38 milhões km2 | 38 |
Densidade da Lua | 3,34 | 3,36 |
Distância média Lua-Sol | 149.000.000 km. | 148.200 |
Ciclo de Saros (repetição dos eclipses) | 18 anos, 11 dias, 8 horas | 18 |
Gilvan levanta a
hipótese de que há vestígios ideográficos nas insculturas do Ingá,
considerando-se que a escrita ideográfica é caracterizada pela síntese, o
que pode ser notado na emblemática conformação das figuras deste painel
milenar e no mistério da técnica utilizada em sua feitura. Para o
mesmo, os caracteres deste monumento paraibano não se assemelham
totalmente aos hieróglifos e alfabetos de outros povos, porém, argumenta
que “os primeiros vestígios identificam-se com as línguas que se
constituíram posteriormente na principal fonte de todos os dialetos
existentes, o que nos levaria a supor na organização daqueles sinais
como a raiz das línguas do passado que deram lugar aos alfabetos hoje
conhecidos.” Daí, faz relações com os signos encontrados em Glozel
(França), com os hieróglifos hititas, a escrita etíope e muitos outros
alfabetos, não deixando de mencionar a estranha simbologia hieroglífica
encontrada na Ilha de Páscoa.
As conclusões deste
autor, que o mesmo prefere converter em sugestões, são essencialmente
coerentes, considerando-se a estranheza sofisticada dos caracteres do
Ingá e a dificuldade de identificação destes com outras culturas.
Segundo Gilvan “ninguém pode dizer que conhece a solução de um enigma
apenas porque tem idéia a respeito do que possa ser o objetivo incomum.”
E ainda, “que as explicações perdem força quando se observa que a
verdade definitiva não foi atingida e que as teorias apenas procuram
confundir os céticos”.
Sugere então, diante das
evidências, que o painel da Pedra do Ingá teria sido utilizado pelos
antigos povos da região como meio de expressão, objetivando deixar para a
posteridade uma mensagem relacionada aos hábitos de seu povo. Alerta,
entretanto, que seus autores insculpiram seus elementos como um
quebra-cabeças, exigindo inteligência, precisão e disposição no trabalho
empreendido para sua decifração. Não poderia ser por isto, obra dos
indígenas que habitaram a região, pois sabe-se que tais atributos não
faziam parte (e nem o fazem hoje) da cultura desses grupos que eram
naturalmente indolentes e avessos a trabalhos desta natureza.
Sugere ainda que o
sistema simbólico utilizado poderia estar relacionado a algum ramo da
língua indo-européia, por causa da utilização de pictogramas semelhantes
aos da Ilha de Páscoa e sua relação com o signos não decifrados do Vale
do Indo. Finalmente, sugere que sejam efetuados levantamentos
antropológicos mais aprofundados e pesquisas arqueológicas para auxiliar
nos estudos de decifração deste enigmático monumento, que poderia
tratar-se de um verdadeiro repositório de informações sobre o passado de
nossa terra.
A TEORIA DE FRANCISCO C. PESSOA FARIA
Uma outra teoria foi
emitida pelo pesquisador Francisco C. Pessoa Faria, médico por
profissão, que por um período de trinta anos desenvolveu estudos na
Pedra do Ingá. Após análises aprofundadas nos signos insculpidos neste
monumento, concluiu que possuem conotação astronômica e que a intenção
de seus autores foi, objetivamente, deixar uma espécie de documento
perene sobre as observações que haviam feito no firmamento, no sol, na
lua, nas estrelas e nas constelações. Segundo o pesquisador esses
criteriosos observadores milenares decidiram fazer então o registro de
efemérides notáveis de seu tempo, deixando “anotado” em pedra bruta o
que conseguiram perceber sobre o movimento dos astros na abóbada
celeste.
Francisco Faria escreveu
um livro intitulado “Os Astrônomos Pré-históricos do Ingá”, onde
desenvolveu suas conclusões a respeito de sua tese astronômica,
procurando fazer relações entre as constelações atuais aos agrupamentos
de signos artisticamente “moldados” no monólito paraibano.
Segundo sua teoria
certas formas insculpidas tratam-se de desenhos estilizados das doze
constelações zodiacais, como também podem representar outras
constelações. Os pontos capsulares na parte superior da pedra seriam uma
representação da eclíptica (a órbita da Terra em torno do Sol),
representada pela circunferência imaginária que representa a trajetória
do sol na esfera celeste.
Alguns dos signos mais
complexos o autor os relaciona com as movimentações dos grupos estelares
durante as estações do ano. Assim, a pictografia que assemelha-se a um
cocar indígena superpondo vários pontos capsulares justapostos e um
signo abaixo destas representações, o autor relaciona a uma espécie de
assinalador do equinócio, podendo desta forma, significar a mudança de
posição do sol do hemisfério norte para o hemisfério sul. As figuras que
se acham abaixo deste conjunto, como a forma antropomorfa, o círculo
seccionado em duas partes e a dupla de pontos capsulares próximo destes
signos, representa-riam fenômenos espaciais e terrestres relacionados
com a efeméride equinocial.
Apesar de sua análise
criteriosa o autor afirma que não é possível estabelecer uma cor-relação
rigorosa entre as insculturas do Ingá e as constelações conhecidas, por
duas razões:
1. Não se pode
afirmar que os povos que “trabalharam” os signos destas itacoatiaras
possuíam os mesmos conhecimentos que temos hoje sobre as constelações e o
movimento do céu nas estações;
2. Não temos como
saber se as divisões constelatórias possuíam as mesmas configurações e
posições que possuem hoje no caminho do zodíaco.
Neste sentido, como não
se conhece a data correta em que estas insculturas poderiam ter sido
feitas, teríamos um problema adicional a resolver, pois quanto mais
retroagirmos no tempo, mais as probabilidades de termos uma percepção
diferente do céu em relação à sua condição atual se tornam mais
pronunciadas. É provável que há alguns milhares de anos no passado,
tivéssemos uma posição diferente das constelações e até mesmo a forma de
observa-las, traçá-las no céu e interpretá-las, poderiam ser muito
diferentes da forma como o fazemos hoje.
Francisco Faria atento a
estes fenômenos não desconhece as dificuldades de uma interpretação
como a que propõe, mas pensa que não poderia se furtar em apresentar
certas coincidências que teria observado em algumas constelações
conhecidas com certos registros nos petróglifos do Ingá. A nosso ver,
seus estudos e suas conclusões não deixam de ser muito relevantes, pois
ajudam a levantar discussões em torno deste enigmático monumento
arqueológico paraibano, estranho demais para as pretensões de certos
estudiosos que prefeririam ter algo mais simples para analisarem, mas
que ali permanece silencioso desafiando a argúcia do intelecto
contemporâneo.
ESTUDOS DE AURÉLIO M. G. DE ABREU
O insigne pesquisador
Aurélio M. G. de Abreu aventou a hipótese de que o monumento do Ingá
venha ser parte de “um contexto mais amplo, ligado diretamente a uma
cultura de grande envergadura que se teria desenvolvido no atual
Paraíba”. Complementa o pesquisador que “nesse estado sobrevivem lendas e
citações sobre fatos insólitos, todos ligados à existência de uma
civilização nativa que atingiu o estágio da escrita, gravando longos
textos não só em pedra como também em livros de casca de árvore,
localizados e destruídos pelos religiosos no período colonial”.
Aurélio de Abreu afirma
que fora da Paraíba não existem exemplos de inscrições parecidas com as
do Ingá que teriam sobrevivido ao tempo e à destruição deliberada. Em
suas avaliações sobre as mesmas, pergunta o professor se não teriam os
misteriosos habitantes da Ilha de Páscoa passado pelo Brasil, deixando
aqui a marca de sua linguagem, ou se teriam saído destas antigas terras
brasilis os portadores da cultura que se formaria naquela ilha do
pacífico?
OUTROS ESTUDOS
O pesquisador Fernando
Moretti afirma que existem 114 signos na Pedra do Ingá, variando desde
cerca de 50 cm. de altura por 3 cm. de profundidade, representado
frutas, répteis, pássaros e estrelas de tamanhos variados. Aventa a
hipótese de que estes sinais possuam semelhanças com os da cerâmica
Marajoara e Tapajônica, afirmando que seu estilo indica uma cultura
superior a dos índios da região ou uma influência muito diferente à
desenvolvida ali. Também Moretti acredita que os caracteres do Ingá
sejam muito parecidos com os da tábua Kohan Rongo – Rongo, da Ilha de
Pascia.
Também o prof. Alfredo
Coutinho de Medeiros Falcão encontrou nos diversos pontos justapostos
próximo ao painel principal da Pedra do Ingá uma grande identificação
astronômica, como se quisessem mostrar agrupamentos de estrelas. Emitiu a
hipótese de que este conjunto no piso horizontal se tratasse da própria
representação da constelação de Órion, devido a semelhança dos pontos
ali traçados e as estrelas que faz\em parte da mesma.
Muitos pesquisadores não
admitem que possa ter havido uma escrita fonética no Brasil
pré-histórico, mas certas inscrições rupestres encontradas de norte a
sul do país sugerem caracteres ligados a uma linguagem primitiva situada
em alguma parte do território brasileiro. Se analisarmos detidamente a
língua tupi-guarani vamos notar que ela é riquíssima em termos
linguísticos, mesmo que dela não conheçamos ainda a estrutura de um
alfabeto, claramente estabelecido, para sustentar seu linguajar nativo e
seus derivados.
A Pedra do Ingá levanta a
suspeita de que tenha havido uma língua primitiva no Brasil. Ao
estudarmos com critério seus caracteres milenares, alvo deste estudo,
não podemos deixar de nos surpreender com suas primorosas reproduções e
notável polimento, e não refletir sobre a existência de um linguajar
ideográfico, perdido nas cinzas de nosso passado. Suas diversas
representações estilizadas, algumas desconhecidas, outras se mostrando
como formas zoomorfas, antropomorfas, fitomorfas, cosmogônicas ou
caracteres com definições espaciais bem planejadas, conduzem-nos a
pensar que possam tratar-se, efetiva-mente, de uma espécie de escrita
racional, idealizada e produzida para transmitir conhecimento, apesar de
não compreendermos ainda o seu código secreto.
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