O estranho monólito que 
compõe a Pedra do Ingá é conhecido praticamente desde a descoberta do 
Brasil, pois sabe-se que o mesmo foi citado pela primeira vez em 1.618, 
no livro Diálogos da Grandeza do Brasil, atribuído ao português
 Ambrósio Fernandes Brandão que, segundo os historiadores, se trata de 
uma obra excepcionalmente carregada de sentido doutrinário e ufanista. É
 provável que este monumento tenha seu lugar reservado entre os mais 
intrigantes enigmas arqueológicos já descobertos em nosso planeta. É 
sabido que se trata do maior, mais complexo e mais misterioso conjunto 
rupestre que reporta a um passado desconhecido e carrega consigo uma 
grande quantidade de caracteres e signos ainda por serem decifrados. 
Esta colossal pedra cifrada está localizada no Estado da Paraíba, na 
Serra da Borborema, município de Ingá, às margens do rio de mesmo nome, 
antigo Bacamarte, a 85 km de João Pessoa e a 35 km de Campina Grande. Na
 época das chuvas este grande monólito fica parcialmente encoberto pela 
água e no tempo seco pode ser visto em sua totalidade, além de que o 
leito do rio fica completamente seco, com apenas algumas poças d’água 
espalhadas em quase toda a sua extensão.
Como o acesso deste 
importante monumento arqueológico paraibano é relativamente fácil, 
afirmamos com tristeza que o mesmo vem sendo destruído através dos 
tempos por vândalos e exploradores de relíquias arqueológicas, correndo o
 risco de ser irreversivelmente inutilizado para futuras pesquisas e 
análises mais acuradas de seu conteúdo lítico. Mesmo assim, a Pedra do 
Ingá continua sendo um magnífico mistério, constituído de um grande 
monólito de granito assentado sobre o leito do Rio Ingá, com cerca de 23
 m de comprimento e altura aproximada de 3,50 m na sua parte mais alta.
As inscrições da Pedra 
do Ingá se estendem por todo o seu dorso vertical, numa extensão de 
aproximadamente 16 metros. São, de fato, de uma estranheza indescritível
 e somente vendo-as de perto é que podemos perceber a complexidade de 
seus talhes bem elaborados e deduzir que, quanto mais tentamos retroagir
 no tempo para atribuir aos caracteres deste acervo arqueológico uma 
explicação simplista, de que teriam sido produzidos por povos primitivos
 ou indígenas, por exemplo, mais estes se distanciam de uma realidade 
palpável e mais seu mistério se densifica.
Pensa-se que suas 
insculturas foram executadas por meio de algum tipo de instrumento 
pontiagudo, que teria sido manipulado por homens daquela época, 
semi-bárbaros, até produzir os baixos relevos que ali se acham 
incrustados. O que não se pode explicar, entretanto, é que estes signos 
possuem um acabamento primoroso, como se tivessem sido elaborados por 
métodos muito avançados e não, simplesmente, por intermédio de pancadas 
ou ranhuras na pedra com ferramentas comuns. Definitivamente, este 
magnífico trabalho não poderia ter uma explicação tão destituída de 
imaginação como a que lhe é dada por alguns pesquisadores e não pode, 
simplesmente, estar ligado a tradições corriqueiras de povos que, 
sequer, possuíam alguma forma de escrita.
Por outro lado, não se 
tem notícia de que haja em outro lugar, no Brasil ou fora dele, um 
conjunto de inscrições rupestres que possam assemelhar-se ao deste 
monumento arqueológico da Paraíba, tal é a sua excepcionalidade e sua 
condição desafiadora, tanto em relação à sua forma e métodos utilizados,
 quanto à sua complexidade e execução de sua vasta petrografia. Além 
disto, suas insculturas parecem ter sido rigorosamente planejadas, 
traçadas e executadas, criando assim uma certa dificuldade junto aos 
estudiosos que pretendem transformá-las simplesmente em arte primitiva 
ou atribuir a sua feitura aos antigos trogloditas que teriam vivido 
naquela região. Pode-se dizer que este formidável mistério paraibano 
distancia-se, inequivocamente, de tudo aquilo que tem sido regularmente 
encontrado e pesquisado em outros locais do mundo no âmbito da 
arqueologia, constituindo-se de algo verdadeiramente ímpar no estudo 
arqueológico, e, até mesmo, podendo se dizer que de trata de uma 
incômoda “pedra no sapato dos pesquisadores”.
Desde a chegada dos conquistadores europeus ao Brasil que as itacoatiaras (pedras pintadas em
 tupi) têm sido encontradas e o questionamento sobre a sua origem teve 
início. Os antigos indígenas que habitavam estas terras (e mesmo os dos 
dias de hoje) sempre foram unânimes em afirmar que seus autores não 
foram os seus antepassados e que aqueles que as “escreveram” pertenceram
 a um passado bem longínquo, quando ainda havia livre convivência entre 
os homens e os deuses. Houve ainda quem veiculasse uma lenda a dizer que
 no interior da pedra se encontrava encerrado um grande tesouro, levando
 muitos vândalos e gananciosos em busca de riqueza fácil a tentarem 
quebrá-la, sem êxito, tirando-lhe apenas algumas lascas e danificando-a,
 irreversivelmente.
Detalhes dos enigmáticos caracteres da Pedra do Ingá.
À sua volta podem ser 
encontrados signos variados e outros enigmas a serem solucionados. Os 
estranhos e incompreensíveis caracteres semelhantes a ideogramas que ali
 podem ser vistos, espalhados por diversos lugares, possuem 
características, aparentemente, muito diferentes entre si. Alguns destes
 já se encontram bem desgastados pelo tempo, enquanto que outros podem 
ainda serem vistos com grande nitidez, como se tivessem sido fundidos na
 pedra. O leito seco do rio mostra inúmeros orifícios escavados na rocha
 em todo o seu percurso e se tratam de marcas deixadas pelo movimento da
 água em redemoinhos. Assemelham-se a bacias médias e pequenas e muito 
lisas, devido ao movimento contínuo da água. Porém, existem alguns 
poucos destes orifícios, com um diâmetro de, aproximadamente, 20 
centímetros e uma profundidade de uns 40 centímetros, que parecem ter 
sido feitos com uma grande broca metálica, tal a precisão com que foram 
escavados. Suas paredes são lisas, com ranhuras, semelhantes aos dos 
furos que são feitos por equipamento metálico cortante e se diferem 
muito dos outros que se encontram por ali, mais rasos e deformados. 
Enquanto que os demais permitem que se possa ver a atuação da água 
corrente, estes outros não guardam as mesmas características e, a nosso 
ver, não podem ser assim considerados, como resultado de simples erosões
 da água sobre a rocha.
Do lado oposto à 
itacoatiara do Ingá, vamos encontrar um outro mistério. Existe ali uma 
pedra deformada de cor acinzentada, como se tivesse sido amassada, da 
mesma forma como o fazemos com o barro, contendo diversos caracteres 
gravados em seu dorso. Na sua parte superior esquerda, há uma depressão 
semelhante a um pé, como se alguém tivesse pisado ali, enquanto ela 
ainda estava mole, deixando uma marca bem profunda. Além disso, ela 
emite um sonido semelhante ao do sino quando é tocada com uma pedra e 
este som pode ser ouvido, até mesmo, se batermos nela com o nó dos 
dedos. Parece oca e emite um som metálico.
Toda esta região está 
coberta de enigmas desta natureza, além do maior deles que é a própria 
Pedra do Ingá e sabe-se que nas redondezas e em outros lugares mais 
distantes existem diversas outras inscrições de caráter estranho, 
monumentos megalíticos e histórias variadas sobre cada um deles.
Como já dissemos, em 
todo o leito do rio podem ser encontrados muitos caracteres de cunho 
desconhecido, que fazem com que o espectador se pergunte qual teria sido
 a importância de tudo aquilo para seus idealizadores e artífices ou 
qual teria sido seu significado. Considerar, simplesmente, que os 
agrupamentos humanos na antiguidade não tinham nada com que se 
preocupar, senão ficar “desenhando” em pedras e esculpindo em rochedos, é
 por demais destituído de criatividade e bom senso, considerando-se que,
 em determinados lugares, como na região do Ingá, por exemplo, tais 
demonstrações de “vagabundagem” são por demais complexas, carregadas de 
simbolismos expressivos, chegando, até mesmo, a alcançar uma certa 
exuberância inexplicável. Assim como pode ser observado nas culturas 
Marajó e Tapajós, em sua complexa simbologia e arte, um esmerado cuidado
 artístico e lógico, também aqui no monólito do Ingá vamos constatar o 
cuidado de seus construtores, que se reflete perante os pesquisadores 
como um sério problema a ser resolvido. É inegável que o tipo de cultura
 que teria sido responsável por este enigmático trabalho rupestre se 
coloca num grau muito superior ao de outros “trabalhos” líticos, 
regularmente encontrados em outras regiões e para alguns estudiosos 
seria mais cômodo se registros como estes jamais tivessem existido.
Seria lícito afirmar que
 tais caracteres tivessem sido produzidos por vias naturais, como 
erosão, segundo alguns ou através de aranhões na pedra com ferramentas 
rudimentares?
Sabe-se que os índios 
cariris que habitavam na Serra da Borborema, próximo do Ingá, não 
possuíam um nível de cultura compatível com o grau de dificuldade que 
estas insculturas apresentam e não conheciam esses qualquer rudimento de
 escrita, apesar de terem uma vida bem mais longeva do que outros povos 
que ali viviam. Os pajés de sua tribo eram exímios em trabalhos de magia
 e ritos desconhecidos. Diziam que seu povo se originou de uma tribo de 
homens sábios que teria vindo de um lago encantado (seriam atlantes?). 
Quanto à Pedra do Ingá, diziam apenas que seus escritos estavam 
relacionados ao deus Tupã.
Já foram levantadas 
várias teorias sobre as enigmáticas inscrições da Pedra do Ingá, como 
por exemplo, o caso de Léon Clérot, que sugeriu que se tratassem de 
representações de plantas estilizadas, de figuras humanas, de animais e 
outros sinais desconhecidos. O arqueólogo Alfredo Coutinho Menezes disse
 tratar-se de figuras zoomorfas, dentre as quais se destacam pássaros e 
répteis, figuras fitomorfas como o abacaxi e espigas de milho. Mais 
recentemente, a itacoatiara do Ingá, foi estudada por Jacques Ramondot, 
que descobriu numa rocha no leito do rio, um conjunto de inscrições, bem
 desgastadas pelo tempo e pela água corrente, que entendeu ser o esboço 
de uma constelação. Esta representação assemelha-se a estrelas e mostra 
pontos interligados entre si, como num mapa, além de incluir outros 
signos, como uma espécie de serpentina e um disco, tipo solar, que 
parecem fazer parte do esquema astronômico.
Existem também algumas 
teorias estranhas a respeito das insculturas da Pedra do Ingá. Uma 
primeira afirma que aqueles sinais não passam de sulcos naturais na 
rocha, produzidos pelo tempo e suas variantes (chuva, vento, calor 
etc.). Para quem conhece este monumento lítico esta teoria seria 
classificada de, no mínimo, inapropriada, pois qualquer pessoa (mesmo um
 visitante comum) pode notar que se trata de um trabalho executado por 
mãos humanas ou um tipo de tecnologia que desconhecemos.
Uma segunda teoria 
afirma tratar-se de obras produzidas por indígenas ociosos que habitavam
 a região, que traçavam aleatoriamente riscos para indicar caminhos e 
outros sinais sem grandes preocupações de manterem coerência nas suas 
reproduções. Diante da complexidade das insculturas não podemos também 
concordar com esta teoria, que se apresenta pouco realista e 
radicalmente simplista para explicar algo de tamanha notoriedade.
Uma terceira teoria, 
ainda mais absurda, afirma que os signos da pedra lavrada do Ingá não 
passam de sulcos produzidos por amolação de facas e ferramentas 
indígenas, esquecendo-se seu formulador de verificar que certos 
caracteres se encontram a uma altura superior à de um homem comum. Esta 
condição obriga-nos a justificar que a precisão das formas insculpidas e
 a integridade de seus contornos, por si só, já desmoralizam esta tese, 
ainda que sejam observadas por um leigo em arqueologia.
Uma quarta teoria 
considera que aqueles signos tenham sido produzidos por visitantes 
europeus e asiáticos que teriam chegado até as Américas e se 
incursionado pelo seu interior, antes de Colombo e Cabral.
Há ainda uma quinta 
teoria, bem mais moderada, que relaciona estes signos a uma civilização 
bem mais remota e muito mais avançada, que teria vivido em terras 
brasileiras e se preocupado em deixar gravado em pedra uma mensagem para
 as futuras gerações.
Paralelamente, também 
existe aquela teoria de que tais caracteres sejam de origem alienígena, 
registros pétreos de uma raça extraplanetária que aqui esteve em um 
passado distante e que teria feito estas gravações em seu dorso, 
apresentando certos aspectos de seus conhecimentos intergaláticos.
Como referência de uma 
avaliação séria a respeito deste monumento, podemos citar o pesquisador 
Luiz Galdino, que preferiu tratá-lo com a reverência que ele merece no 
cenário arqueológico, assim como aos seus caracteres desconhecidos. 
Destacamos o seguinte em sua obra Itacoatiaras – uma pré-história da arte no Brasil: “A
 pedra do Ingá, com seus relevos de acabamento esmerado destaca-se, 
imediatamente, como um exemplo ímpar, diante do vasto acervo de 
itacoatiaras espalhado por todo o país. As inscrições são gravadas em 
baixo-relevo, mediante sulcos largos e profundos. Nos pontos melhor 
conservados, percebe-se, ainda, vestígios de uma antiga pintura que 
recobria o fundo dos sulcos”.
E ainda: “Os signos 
estilizados ao extremo supõem um prolongado período de evolução e 
aprimoramento. Estranhamente, esse signário mostra-se único. Mais fácil 
imaginá-lo como a obra de um povo estranho que atravessou a região, não 
deixando outros testemunhos, do que pensá-lo como a evolução natural a 
partir dos exemplares mais primitivos existentes no resto do país”.
Conjunto de insculturas modeladas da Pedra do Ingá.
O certo em tudo isto é 
que a Pedra do Ingá tornou-se presença viva e surpreendente no cenário 
arqueológico do nordeste brasileiro, como se se tratasse de algo que não
 pudesse estar ali onde se encontra, com seus caracteres 
incompreensíveis e desafiadores. Se os compararmos com outros da própria
 região, estes se fazem tão irreais e absurdos, que não deixam de causar
 grande incômodo no meio acadêmico, diante da cultura vigente e dos 
rígidos conceitos de análise, que não podem permitir que nenhum 
acontecimento no passado da Terra possa se colocar fora dos padrões 
pré-definidos de verificação e classificação científica.
Acreditamos, seja esta, 
talvez a causa de nosso estarrecimento diante de “realidades” que, como 
estas, se apresentam muito mais como ficção do que como possibilidade e 
muito mais como um desafio inadmissível com a chancela de inexplicável, 
do que como algo que precisa ser encarado sob uma nova perspectiva de 
pesquisa e análise, e de uma percepção mais acurada desta realidade.
A Pedra do Ingá é, sem 
dúvida, um dos mais expressivos registros rupestres do Brasil perdido 
nas caatingas paraibanas e o maior testemunho silencioso de que em 
passado longínquo o solo brasileiro teria sido palco de uma cultura 
avançada que registrou ali parte de seu conhecimento perdido. Desta 
forma, podemos tomá-la como prova de que já tivemos uma escrita 
pré-histórica no Brasil, face à expressividade e à coerência de seus 
signos, aplicados magistralmente lado a lado, apesar de aparentarem, em 
princípio, uma certa descontinuidade e desordem.
Temos convicção de que 
ela esconde uma chave para sua compreensão e que a mesma se encontra 
ali, interagindo com seus demais caracteres. Resta-nos descobri-la. 
Outro fator que teríamos de acalentar é que sua análise terá de 
considerar as condições que estabeleceram a lógica de sua feitura, na 
época em que foi lavrada e artisticamente insculpida, pois estas 
deveriam ter sido muito diferentes das que temos hoje para estudá-la e 
compreendê-la, o que expõe um novo empecilho para identificação de sua 
chave e sua decifração.
Acreditamos que tal 
condição e grau de dificuldade se devem muito mais ao fato de querermos 
compreendê-la com o raciocínio atual e o conhecimento que possuímos 
hoje, sem nos atinarmos em procurar aprofundar no tempo (como no caso 
das interpretações dos códigos maias e egípcios) para buscar a forma 
como aqueles povos entendiam a vida na Terra e observavam o céu, os 
astros, os planetas, as estrelas, as estações do ano, as variações do 
tempo e as mudanças provocadas por estas variações. Um mesmo signo ou 
ícone que usamos regularmente hoje, aceito e compreendido por quase toda
 a população da Terra poderia, em futuro distante, significar um grande 
enigma para os estudiosos, por estar o mesmo muito distante de seu tempo
 e por tentarem aqueles analisá-lo sob sua ótica, seus conhecimentos e 
suas perspectivas.
Estas magníficas 
insculturas ou moldes na pedra foram feitas em baixo relevo, em sulcos 
largos e profundos, tipo meia-cana, com o objetivo, talvez, de fazê-los 
perenizar no tempo, o mais longe possível. Seriam ícones de um tempo 
perdido no passado da Terra? Ou seriam apenas parte de um conhecimento 
milenar esquecido pela memória dos povos?
Segundo os pesquisadores
 podem ainda ser encontrados vestígios de que estes signos estiveram 
cobertos por tinta para, certamente, fazê-los destacarem-se a grande 
distância. As formas gravadas na pedra são variadas e algumas de grandes
 proporções, assemelhando-se muitas delas a figuras zoomorfas e 
antropomorfas, como já foi dito, algumas geométricas, apresentando, 
porém, na sua maioria, estruturas de cunho desconhecido. No entanto, 
todas elas foram elaboradas com alto grau de complexidade e cuidado.
Diante da excentricidade
 deste painel lítico torna-se difícil não considerarmos que possam vir 
tratar-se de uma espécie de escrita, pictográfica ou ideográfica, uma 
vez que seus signos são estranhamente estilizados, o que exigiria um 
longo estágio de evolução e aprimoramento, além de conhecimentos 
específicos para serem reproduzidos. Sabe-se que a pictografia 
representa o estágio mais primitivo da escrita, de forma que cada 
elemento deste sistema constitui-se no próprio pictograma. Este, por sua
 vez, não é outra coisa que senão a reprodução de um desenho 
auto-explicativo e de significado próprio, que está ligado à sua própria
 forma. Por outro lado, o ideograma amplia este contexto na 
representação de sua simbologia, de forma que, enquanto na pictografia 
um círculo significa somente o Sol (por exemplo), no ideograma este 
poderia simbolizar um atributo do Sol, como a luz e o calor, ampliando o
 grau de percepção de um signo.

Diante do elevado grau 
de dificuldade para compreensão dos signos milenares do Ingá, faremos a 
seguir uma breve exposição de algumas teorias de pesquisadores 
brasileiros, que se preocuparam em debruçarem-se sobre sua vasta 
simbologia, numa tentativa de compreendê-la integralmente. Ao final, na 
3ª parte, destacaremos o trabalho do grande pesquisador Gabrielli 
Baraldi e incluiremos a opinião do autor deste estudo e suas 
observações, após sua visita a este esplêndido monumento arqueológico 
brasileiro.
AS PESQUISAS DE GILVAN DE BRITO
Em primeiro lugar 
queremos citar o pesquisador Gilvan de Brito e seu livro “Viagem ao 
Desconhecido – Os Segredos da Pedra do Ingá”, que tendo o cuidado de 
incluir em seus estudos outros registros rupestres de relevante 
importância no estado da Paraíba. Neste seu magnífico trabalho emite a 
idéia de que no espaço compreendido entre o mar e o Planalto de 
Borborema, pode ser encontrada uma grande profusão de material lítico, 
pictográfico, ideográfico, dolmens, muralhas de pedra e outras 
evidências que indicam a passagem de grupos humanos pela região, povos 
que tiveram um certo grau cultural que os permitisse gravar em pedra 
bruta caracteres sofisticados e erigir “construções” com características
 notadamente megalíticas.
Quando Gilvan diz que “o
 maior e mais importante sítio arqueológico do Brasil localiza-se, 
provavelmente, na Paraíba,” haveremos de concordar com ele, pois quando 
ali estivemos pudemos ter esta mesma impressão e depois de compará-la a 
muitos outros, reforça-mos ainda mais esta convicção. Assim como outros,
 também este autor sugere que as inscrições do piso, ao lado do painel 
vertical do Ingá, possa fazer referência a conjuntos constelatórios, 
apresentando objetivamente seu pensamento em relação àqueles traçados 
geométricos com a Constelação de Orion, Peixe Austral e Grus.
Seu estudo, entretanto, 
se detém mais demoradamente no grande painel vertical, devido à sua 
profusão de símbolos, pontos capsulares e ideogramas, além da sua 
notável expressividade, delicadeza dos traçados e dos cortes das 
insculturas, e sua estranheza. Apesar de os arqueólogos atribuírem a 
estes signos, quase sempre, classificações mais comuns, como zoomorfas, 
fitomorfas, cosmogônicas, fálicas e antropomorfas, Gilvan acredita que 
os mesmos possam ter um significado bem mais contundente. Acena que a 
Pedra do Ingá poderia ter sido insculpida com apurada técnica e um 
conhecimento específico de seus autores, pois a linhas inicialmente 
traçadas foram, posteriormente, gravadas na rocha com fino acabamento e 
polimento “lembrando perfurações realizadas através de modernos 
equipa-mentos de raio laser”, conforme comenta.
Há uma variedade de 
formas gravadas neste painel principal como linhas retas, pontilhadas, 
espirais, canais paralelos, curvos, circulares e lineares, mas não se 
podem ver, conforme observa, figuras triangulares nem ornamentais. 
Segundo pensa, tratam-se de símbolos que tentam materializar uma idéia 
específica, pois encontrou traços significativos que fundamentam tal 
pensamento, formas silábicas e ideográficas que procuram “uma função 
determinada na comunicação escrita”. Neste sentido destacou alguns 
caracteres (exemplificados no quadro abaixo), para aventar a hipótese de
 que somente uma forma de inteligência, é que poderia ter criado aquele 
painel ordenado de mensagens cifradas, certamente, com a finalidade de 
levar até o futuro as impressões culturais de seu povo. Abaixo 
apresentamos quadro com exemplos da classificação tipológica comentada 
por Gilvan de Brito.
Para Gilvan de Brito as 
insculturas gravadas em Ingá devem ter sido obra de um povo que aqui 
teria vivido em passado longínquo, onde cada componente desta raça teria
 oferecido sua contribuição para a feitura deste magnífico conjunto 
lítico. Para ele, a comunidade impulsionada pela visão do artista que 
havia idealizado o painel incumbiu-se de rasgar a pedra já marcada pelos
 contornos riscados por sua mão hábil e deixar para posteridade o 
primoroso resultado de seu trabalho. Com cuidado analisa os signos em 
separado, comparando a figura esguia do início do painel (em sua parte 
mais alta) à uma balança rústica, sugerindo, até mesmo, que a Pedra do 
Ingá venha a ser um túmulo de um ilustre visitante que teria ensinado 
aos moradores da região novos conhecimentos.
Gilvan faz uma 
interessante ligação entre a Pedra do Ingá, as pirâmides de Queops, no 
Egito, e Theotihuacan, no México, com a possível localização da 
Atlântida. Traçando uma linha reta entre as duas grandes pirâmides, do 
Egito e do México, e dividindo o Trópico de Câncer exatamente no meio, 
entre as duas pirâmides citadas, traça uma linha vertical, tendo abaixo a
 localização da Pedra do Ingá e acima, próximo à Groelândia, a 
localização da desaparecida Atlântida (ver ilustração abaixo). Tal 
interpretação não nos parece inconcebível, porque também acreditamos que
 existe uma estreita relação entre este lendário continente 
desaparecido, o antigo Egito e os povos Maias. Por que não incluir a 
Pedra do Ingá e sua complexa simbologia neste contexto histórico ainda 
por decifrar, principalmente, se podemos observar esta situação 
emblemática entre os mesmos?
Gilvan cita outros 
pesquisadores que alegam que tais inscrições teriam sido feitas por 
habitantes indígenas da região. Entretanto, discorda dos mesmos, não 
reconhecendo que as gravações do Ingá tenham, sido produzidas pela 
ociosidade e o espírito brincalhão e esportivo dos índios brasileiros. 
Avançando em suas pesquisas e utilizando-se de observações feitas na 
seqüência de pontos capsulares no alto dos signos insculpidos e nas 
representações que lembram a lua, elaborou estudos numéricos e 
analíticos, chegando a conclusões muito interessantes que gostaríamos de
 destacar.
| ITENS ANALISADOS | POSIÇÃO OFICIAL | POSIÇÃO LEVANTADA | 
| Ano Solar | 366 dias (ano bissexto) | 366 | 
| Ano Lunar | 354 dias | 342 | 
| Velocidade Orbital | 3.700 km/h | 3.660 | 
| Perigeu (menor distância entre a Terra e a Lua) | 356.375 km. | 366.000 | 
| Apogeu (maior distância entre a Terra e a Lua) | 406.720 km. | 408.000 | 
| Raio da Lua | 1.700 km. | 1.710 | 
| Inclinação da Órbita | 5,1454º | 5,9 | 
| Inclinação em relação ao equador terrestre | 23,5º | 24 | 
| Distância Terra-Lua (eixo a eixo) | 384.500 km. | 380 | 
| Medida do PI | 3,14 | 3,18 | 
| Diâmetro do equatorial da Lua | 3.476 km. | 3.473 | 
| Área da Lua | 38 milhões km2 | 38 | 
| Densidade da Lua | 3,34 | 3,36 | 
| Distância média Lua-Sol | 149.000.000 km. | 148.200 | 
| Ciclo de Saros (repetição dos eclipses) | 18 anos, 11 dias, 8 horas | 18 | 
Gilvan levanta a 
hipótese de que há vestígios ideográficos nas insculturas do Ingá, 
considerando-se que a escrita ideográfica é caracterizada pela síntese, o
 que pode ser notado na emblemática conformação das figuras deste painel
 milenar e no mistério da técnica utilizada em sua feitura. Para o 
mesmo, os caracteres deste monumento paraibano não se assemelham 
totalmente aos hieróglifos e alfabetos de outros povos, porém, argumenta
 que “os primeiros vestígios identificam-se com as línguas que se 
constituíram posteriormente na principal fonte de todos os dialetos 
existentes, o que nos levaria a supor na organização daqueles sinais 
como a raiz das línguas do passado que deram lugar aos alfabetos hoje 
conhecidos.” Daí, faz relações com os signos encontrados em Glozel 
(França), com os hieróglifos hititas, a escrita etíope e muitos outros 
alfabetos, não deixando de mencionar a estranha simbologia hieroglífica 
encontrada na Ilha de Páscoa.
As conclusões deste 
autor, que o mesmo prefere converter em sugestões, são essencialmente 
coerentes, considerando-se a estranheza sofisticada dos caracteres do 
Ingá e a dificuldade de identificação destes com outras culturas. 
Segundo Gilvan “ninguém pode dizer que conhece a solução de um enigma 
apenas porque tem idéia a respeito do que possa ser o objetivo incomum.”
 E ainda, “que as explicações perdem força quando se observa que a 
verdade definitiva não foi atingida e que as teorias apenas procuram 
confundir os céticos”.
Sugere então, diante das
 evidências, que o painel da Pedra do Ingá teria sido utilizado pelos 
antigos povos da região como meio de expressão, objetivando deixar para a
 posteridade uma mensagem relacionada aos hábitos de seu povo. Alerta, 
entretanto, que seus autores insculpiram seus elementos como um 
quebra-cabeças, exigindo inteligência, precisão e disposição no trabalho
 empreendido para sua decifração. Não poderia ser por isto, obra dos 
indígenas que habitaram a região, pois sabe-se que tais atributos não 
faziam parte (e nem o fazem hoje) da cultura desses grupos que eram 
naturalmente indolentes e avessos a trabalhos desta natureza.
Sugere ainda que o 
sistema simbólico utilizado poderia estar relacionado a algum ramo da 
língua indo-européia, por causa da utilização de pictogramas semelhantes
 aos da Ilha de Páscoa e sua relação com o signos não decifrados do Vale
 do Indo. Finalmente, sugere que sejam efetuados levantamentos 
antropológicos mais aprofundados e pesquisas arqueológicas para auxiliar
 nos estudos de decifração deste enigmático monumento, que poderia 
tratar-se de um verdadeiro repositório de informações sobre o passado de
 nossa terra.
A TEORIA DE FRANCISCO C. PESSOA FARIA
Uma outra teoria foi 
emitida pelo pesquisador Francisco C. Pessoa Faria, médico por 
profissão, que por um período de trinta anos desenvolveu estudos na 
Pedra do Ingá. Após análises aprofundadas nos signos insculpidos neste 
monumento, concluiu que possuem conotação astronômica e que a intenção 
de seus autores foi, objetivamente, deixar uma espécie de documento 
perene sobre as observações que haviam feito no firmamento, no sol, na 
lua, nas estrelas e nas constelações. Segundo o pesquisador esses 
criteriosos observadores milenares decidiram fazer então o registro de 
efemérides notáveis de seu tempo, deixando “anotado” em pedra bruta o 
que conseguiram perceber sobre o movimento dos astros na abóbada 
celeste.
Francisco Faria escreveu
 um livro intitulado “Os Astrônomos Pré-históricos do Ingá”, onde 
desenvolveu suas conclusões a respeito de sua tese astronômica, 
procurando fazer relações entre as constelações atuais aos agrupamentos 
de signos artisticamente “moldados” no monólito paraibano.
Segundo sua teoria 
certas formas insculpidas tratam-se de desenhos estilizados das doze 
constelações zodiacais, como também podem representar outras 
constelações. Os pontos capsulares na parte superior da pedra seriam uma
 representação da eclíptica (a órbita da Terra em torno do Sol), 
representada pela circunferência imaginária que representa a trajetória 
do sol na esfera celeste.
Alguns dos signos mais 
complexos o autor os relaciona com as movimentações dos grupos estelares
 durante as estações do ano. Assim, a pictografia que assemelha-se a um 
cocar indígena superpondo vários pontos capsulares justapostos e um 
signo abaixo destas representações, o autor relaciona a uma espécie de 
assinalador do equinócio, podendo desta forma, significar a mudança de 
posição do sol do hemisfério norte para o hemisfério sul. As figuras que
 se acham abaixo deste conjunto, como a forma antropomorfa, o círculo 
seccionado em duas partes e a dupla de pontos capsulares próximo destes 
signos, representa-riam fenômenos espaciais e terrestres relacionados 
com a efeméride equinocial.
Apesar de sua análise 
criteriosa o autor afirma que não é possível estabelecer uma cor-relação
 rigorosa entre as insculturas do Ingá e as constelações conhecidas, por
 duas razões:
1.       Não se pode 
afirmar que os povos que “trabalharam” os signos destas itacoatiaras 
possuíam os mesmos conhecimentos que temos hoje sobre as constelações e o
 movimento do céu nas estações;
2.       Não temos como 
saber se as divisões constelatórias possuíam as mesmas configurações e 
posições que possuem hoje no caminho do zodíaco.
Neste sentido, como não 
se conhece a data correta em que estas insculturas poderiam ter sido 
feitas, teríamos um problema adicional a resolver, pois quanto mais 
retroagirmos no tempo, mais as probabilidades de termos uma percepção 
diferente do céu em relação à sua condição atual se tornam mais 
pronunciadas. É provável que há alguns milhares de anos no passado, 
tivéssemos uma posição diferente das constelações e até mesmo a forma de
 observa-las, traçá-las no céu e interpretá-las, poderiam ser muito 
diferentes da forma como o fazemos hoje.
Francisco Faria atento a
 estes fenômenos não desconhece as dificuldades de uma interpretação 
como a que propõe, mas pensa que não poderia se furtar em apresentar 
certas coincidências que teria observado em algumas constelações 
conhecidas com certos registros nos petróglifos do Ingá. A nosso ver, 
seus estudos e suas conclusões não deixam de ser muito relevantes, pois 
ajudam a levantar discussões em torno deste enigmático monumento 
arqueológico paraibano, estranho demais para as pretensões de certos 
estudiosos que prefeririam ter algo mais simples para analisarem, mas 
que ali permanece silencioso desafiando a argúcia do intelecto 
contemporâneo.
ESTUDOS DE AURÉLIO M. G. DE ABREU
O insigne pesquisador 
Aurélio M. G. de Abreu aventou a hipótese de que o monumento do Ingá 
venha ser parte de “um contexto mais amplo, ligado diretamente a uma 
cultura de grande envergadura que se teria desenvolvido no atual 
Paraíba”. Complementa o pesquisador que “nesse estado sobrevivem lendas e
 citações sobre fatos insólitos, todos ligados à existência de uma 
civilização nativa que atingiu o estágio da escrita, gravando longos 
textos não só em pedra como também em livros de casca de árvore, 
localizados e destruídos pelos religiosos no período colonial”.
Aurélio de Abreu afirma 
que fora da Paraíba não existem exemplos de inscrições parecidas com as 
do Ingá que teriam sobrevivido ao tempo e à destruição deliberada. Em 
suas avaliações sobre as mesmas, pergunta o professor se não teriam os 
misteriosos habitantes da Ilha de Páscoa passado pelo Brasil, deixando 
aqui a marca de sua linguagem, ou se teriam saído destas antigas terras 
brasilis os portadores da cultura que se formaria naquela ilha do 
pacífico?
OUTROS ESTUDOS
O pesquisador Fernando 
Moretti afirma que existem 114 signos na Pedra do Ingá, variando desde 
cerca de 50 cm. de altura por 3 cm. de profundidade, representado 
frutas, répteis, pássaros e estrelas de tamanhos variados. Aventa a 
hipótese de que estes sinais possuam semelhanças com os da cerâmica 
Marajoara e Tapajônica, afirmando que seu estilo indica uma cultura 
superior a dos índios da região ou uma influência muito diferente à 
desenvolvida ali. Também Moretti acredita que os caracteres do Ingá 
sejam muito parecidos com os da tábua Kohan Rongo – Rongo, da Ilha de 
Pascia.
Também o prof. Alfredo 
Coutinho de Medeiros Falcão encontrou nos diversos pontos justapostos 
próximo ao painel principal da Pedra do Ingá uma grande identificação 
astronômica, como se quisessem mostrar agrupamentos de estrelas. Emitiu a
 hipótese de que este conjunto no piso horizontal se tratasse da própria
 representação da constelação de Órion, devido a semelhança dos pontos 
ali traçados e as estrelas que faz\em parte da mesma.
Muitos pesquisadores não
 admitem que possa ter havido uma escrita fonética no Brasil 
pré-histórico, mas certas inscrições rupestres encontradas de norte a 
sul do país sugerem caracteres ligados a uma linguagem primitiva situada
 em alguma parte do território brasileiro. Se analisarmos detidamente a 
língua tupi-guarani vamos notar que ela é riquíssima em termos 
linguísticos, mesmo que dela não conheçamos ainda a estrutura de um 
alfabeto, claramente estabelecido, para sustentar seu linguajar nativo e
 seus derivados.
A Pedra do Ingá levanta a
 suspeita de que tenha havido uma língua primitiva no Brasil. Ao 
estudarmos com critério seus caracteres milenares, alvo deste estudo, 
não podemos deixar de nos surpreender com suas primorosas reproduções e 
notável polimento, e não refletir sobre a existência de um linguajar 
ideográfico, perdido nas cinzas de nosso passado. Suas diversas 
representações estilizadas, algumas desconhecidas, outras se mostrando 
como formas zoomorfas, antropomorfas, fitomorfas, cosmogônicas ou 
caracteres com definições espaciais bem planejadas, conduzem-nos a 
pensar que possam tratar-se, efetiva-mente, de uma espécie de escrita 
racional, idealizada e produzida para transmitir conhecimento, apesar de
 não compreendermos ainda o seu código secreto.
 
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