- A Escritora
Residia
em Porto Alegre um rapaz chamado Guilherme. Aos 15 anos, depois de
participar de um retiro, ele se interessou pela Igreja Católica, e se
aprofundou nos estudos da fé que esta professava. Tornou-se um garoto
religioso, que tentava ao máximo seguir os mandamentos da Igreja.
Conforme crescia sua crença, e conforme ele aumentava o número de
assuntos envolvendo a religião em seus estudos, sua atenção recaiu em um
assunto um tanto evitado: Demónios. É dito pelos fiéis da Igreja que
não se pode acreditar em Deus, sem acreditar no diabo. Logo, Guilherme
acreditava no diabo. Mas não o temia.
Afinal, ele era um bom católico.
Estaria no caminho certo. Este assunto em especial, lhe chamou a
atenção. Logo ele sabia muito mais coisas sobre possessões, exorcismos, demónios, inferno, purgatório e coisas do género, do que a maioria dos
jovens de sua idade. Por consequência adquiriu o gosto pelo género
Terror. E ganhou o hábito de ler histórias de horror na Internet, de
vários sites. A maioria eram histórias absurdas, sem nenhuma conexão com
a realidade. Mas, existiam outras que lhe causavam curiosidade. Sua
mãe, preocupada com a possibilidade de aquilo se tornar uma obsessão,
lhe questionou, o porquê de, com 18 anos ele ainda não ter tido uma
namorada.
E porque ele preferia aquelas
histórias sinistras do que ir em festas como os amigos. Ela temia que as
histórias pudessem conter o próprio mal nelas. Afinal, tinham um teor
nada agradável. Guilherme argumentava que o melhor favor que se poderia
fazer ao diabo, seria não acreditar nele. Assim, ele teria liberdade
para agir e destruir a obra de Deus. Portanto nenhum demónio, ou força
maligna, escreveria atestando sua existência, pois isso só lhes
prejudicaria. Um dia, Guilherme encontrou um texto muito realista de uma
possessão. Comparando com seus conhecimentos sobre o assunto, tudo
estava no lugar, e aquele caso poderia ser real. Ao término do conto,
havia um e-mail. O nome da autora era Elisa. Guilherme anotou o e-mail
da moça e adicionou no Messenger.Puxou assunto com ela, timidamente,
dizendo ter gostado muito de seu texto. Disse-lhe que era muito
realista, que ele era um estudioso do assunto e que ela escrevia muito
bem.
Elisa, ao contrário das
expectativas do rapaz, respondeu dizendo que também era religiosa, que
também havia estudado o assunto e que inventara o conto. Isso fez com
que a admiração de Guilherme crescesse ainda mais, já que ela própria
havia fraseado cada detalhe do conto, que era extremamente real.
Conversaram quase todos os dias durante 4 meses, até que Elisa deu a ideia de os dois se encontrarem. A essa altura, o garoto já tinha uma
pequena paixoneta pela autora. E a mesma lhe dava atenção o suficiente,
para ele achar que o sentimento era recíproco. Os dois concordaram em se
encontrar em um shopping no dia 6 de Junho, para assistir um filme de
terror (e que outro género seria?) ao cair da tarde.
Os dois se encontraram no local
combinado e entraram no cinema. Assistiram o filme, foram à praça de
alimentação, jantaram, conversaram, e enfim chegou o momento de ir
embora. Elisa, com cara de inocente, pediu que Guilherme a levasse em
casa. Ele riu e disse que tudo bem "Desde que você não me leve até um
cemitério e desapareça". Como ela concordou, rindo também, os dois
saíram caminhando. Em determinado momento, ela parou e disse: É aqui que
moro. Uma casa normal,num bairro comum da cidade. Ela perguntou se
Guilherme já iria embora, ou se ele gostaria de entrar. Dessa vez, não
havia traço de inocência em sua face. O rapaz sorriu e concordou em
entrar. Ela abriu a porta, e abriu caminho para ele. Ele deu alguns
passos para dentro da casa que estava ainda escura, de luzes apagadas.
Ouviu a porta fechar atrás de si. Guilherme riu mais uma vez e disse:
-Ah! Vai me dar um susto exactamente agora? Elisa não respondeu.
Subitamente luzes se acenderam ao redor da sala. Luzes de velas. Os
olhos do rapaz demoraram alguns segundos até se acostumarem com a
claridade repentina. Enfim conseguiu focar o rosto de Elisa, agora com o
semblante sério.
O clima estava tenso, pesado.
Elisa abriu a boca, agora cheia de dentes podres, para falar com uma voz
estranha, que continha duas tonalidades: -Isso não é nenhuma
brincadeira, ser desprezível. Guilherme sentiu um calafrio e os pelos da
nuca se arrepiarem. Tentou se mover, mas não conseguia se afastar muito
de Elisa. Sentia algo espesso debaixo dos pés. Olhou para baixo e
sentiu um novo arrepio percorrer a espinha ao notar um pentagrama
desenhado a sangue onde ele estava pisando. Quando voltou a procurar
Elisa, encontrou seus olhos, vermelhos como o sangue sob seus pés
mirando os seus. Um sorriso macabro se fez no rosto de Elisa. Um sorriso
maior do que deveria ser, como se a boca da garota tivesse sido
cortada. Guilherme começou a suplicar a Deus por sua alma.
-Ele não vai te ajudar agora. - Disse Elisa, com a voz completamente demoníaca.
-Você está mentindo! - Berrou Guilherme desesperado.
- Eu sou católico! Eu sigo os mandamentos! Eu faço tudo correto como Deus manda!
-Mas foi VOCÊ quem me procurou. Sua alma já está perdida! - Falou Elisa.
-Não! EU só leio histórias! Você me enganou!
O maligno gargalhou do terror nos olhos do rapaz.
-É
verdade. Foi tão fácil! Eu nem precisei me esforçar. Você mesmo dava
argumentos a si para se convencer de que o mal não se revelaria. E
acreditava piamente que a consciência de que o mal existe, prejudicaria a
mim! Esqueceu que sou o pai da mentira? Eu não temo o conhecimento da
minha existência! Eu me divirto com os que se acham seguros e salvos! E o demónio dentro daquele corpo frágil ria euforicamente. -Você nunca
suspeitou das histórias? Não percebeu que elas sempre continham
instruções para rituais, formas de invocações, nomes de sites, de vídeos,
de lugares, números de telefones, tudo para que as pessoas aprendam
como chamar o mal? Quantas histórias você mesmo leu sobre pessoas que se
conhecem pela Internet e um acaba por ser uma força maligna? E o que
você fez? Correu para mim!
Guilherme rezava sem parar, e
chorava por piedade. Mas o tinhoso tinha razão. Ele o havia procurado.
Estava nas mãos do diabo. Até hoje não se sabe o que aconteceu com o
rapaz. Os pais nunca o encontraram, ou ao corpo. Dizem que ele foi
arrastado direto para o inferno pelo demónio, e que de lá nunca mais
sairá. Outros acreditam que ele ainda está na casa, sofrendo tortura
eterna pelas mãos de Elisa.
Seja o que for que tenha
acontecido, coisa boa não foi. Aviso aos leitores: CUIDADO! O diabo
ainda está por aí. Não acreditem em ninguém! O pai da mentira usará de
qualquer artifício para atraí-los, e nem o mais fiel dos católicos está
verdadeiramente protegido!
Mestre Lúcifer...
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