quinta-feira, 15 de março de 2012

A Escritora


  •  A Escritora
Residia em Porto Alegre um rapaz chamado Guilherme. Aos 15 anos, depois de participar de um retiro, ele se interessou pela Igreja Católica, e se aprofundou nos estudos da fé que esta professava. Tornou-se um garoto religioso, que tentava ao máximo seguir os mandamentos da Igreja. Conforme crescia sua crença, e conforme ele aumentava o número de assuntos envolvendo a religião em seus estudos, sua atenção recaiu em um assunto um tanto evitado: Demónios. É dito pelos fiéis da Igreja que não se pode acreditar em Deus, sem acreditar no diabo. Logo, Guilherme acreditava no diabo. Mas não o temia. 

Afinal, ele era um bom católico. Estaria no caminho certo. Este assunto em especial, lhe chamou a atenção. Logo ele sabia muito mais coisas sobre possessões, exorcismos, demónios, inferno, purgatório e coisas do género, do que a maioria dos jovens de sua idade. Por consequência adquiriu o gosto pelo género Terror. E ganhou o hábito de ler histórias de horror na Internet, de vários sites. A maioria eram histórias absurdas, sem nenhuma conexão com a realidade. Mas, existiam outras que lhe causavam curiosidade. Sua mãe, preocupada com a possibilidade de aquilo se tornar uma obsessão, lhe questionou, o porquê de, com 18 anos ele ainda não ter tido uma namorada. 


E porque ele preferia aquelas histórias sinistras do que ir em festas como os amigos. Ela temia que as histórias pudessem conter o próprio mal nelas. Afinal, tinham um teor nada agradável. Guilherme argumentava que o melhor favor que se poderia fazer ao diabo, seria não acreditar nele. Assim, ele teria liberdade para agir e destruir a obra de Deus. Portanto nenhum demónio, ou força maligna, escreveria atestando sua existência, pois isso só lhes prejudicaria. Um dia, Guilherme encontrou um texto muito realista de uma possessão. Comparando com seus conhecimentos sobre o assunto, tudo estava no lugar, e aquele caso poderia ser real. Ao término do conto, havia um e-mail. O nome da autora era Elisa. Guilherme anotou o e-mail da moça e adicionou no Messenger.Puxou assunto com ela, timidamente, dizendo ter gostado muito de seu texto. Disse-lhe que era muito realista, que ele era um estudioso do assunto e que ela escrevia muito bem. 

Elisa, ao contrário das expectativas do rapaz, respondeu dizendo que também era religiosa, que também havia estudado o assunto e que inventara o conto. Isso fez com que a admiração de Guilherme crescesse ainda mais, já que ela própria havia fraseado cada detalhe do conto, que era extremamente real. Conversaram quase todos os dias durante 4 meses, até que Elisa deu a ideia de os dois se encontrarem. A essa altura, o garoto já tinha uma pequena paixoneta pela autora. E a mesma lhe dava atenção o suficiente, para ele achar que o sentimento era recíproco. Os dois concordaram em se encontrar em um shopping no dia 6 de Junho, para assistir um filme de terror (e que outro género seria?) ao cair da tarde. 

Os dois se encontraram no local combinado e entraram no cinema. Assistiram o filme, foram à praça de alimentação, jantaram, conversaram, e enfim chegou o momento de ir embora. Elisa, com cara de inocente, pediu que Guilherme a levasse em casa. Ele riu e disse que tudo bem "Desde que você não me leve até um cemitério e desapareça". Como ela concordou, rindo também, os dois saíram caminhando. Em determinado momento, ela parou e disse: É aqui que moro. Uma casa normal,num bairro comum da cidade. Ela perguntou se Guilherme já iria embora, ou se ele gostaria de entrar. Dessa vez, não havia traço de inocência em sua face. O rapaz sorriu e concordou em entrar. Ela abriu a porta, e abriu caminho para ele. Ele deu alguns passos para dentro da casa que estava ainda escura, de luzes apagadas. Ouviu a porta fechar atrás de si. Guilherme riu mais uma vez e disse: -Ah! Vai me dar um susto exactamente agora? Elisa não respondeu. Subitamente luzes se acenderam ao redor da sala. Luzes de velas. Os olhos do rapaz demoraram alguns segundos até se acostumarem com a claridade repentina. Enfim conseguiu focar o rosto de Elisa, agora com o semblante sério. 

O clima estava tenso, pesado. Elisa abriu a boca, agora cheia de dentes podres, para falar com uma voz estranha, que continha duas tonalidades: -Isso não é nenhuma brincadeira, ser desprezível. Guilherme sentiu um calafrio e os pelos da nuca se arrepiarem. Tentou se mover, mas não conseguia se afastar muito de Elisa. Sentia algo espesso debaixo dos pés. Olhou para baixo e sentiu um novo arrepio percorrer a espinha ao notar um pentagrama desenhado a sangue onde ele estava pisando. Quando voltou a procurar Elisa, encontrou seus olhos, vermelhos como o sangue sob seus pés mirando os seus. Um sorriso macabro se fez no rosto de Elisa. Um sorriso maior do que deveria ser, como se a boca da garota tivesse sido cortada. Guilherme começou a suplicar a Deus por sua alma. 
-Ele não vai te ajudar agora. - Disse Elisa, com a voz completamente demoníaca. 
-Você está mentindo! - Berrou Guilherme desesperado.
- Eu sou católico! Eu sigo os mandamentos! Eu faço tudo correto como Deus manda! 
-Mas foi VOCÊ quem me procurou. Sua alma já está perdida! - Falou Elisa. 
-Não! EU só leio histórias! Você me enganou! 
O maligno gargalhou do terror nos olhos do rapaz. 
-É verdade. Foi tão fácil! Eu nem precisei me esforçar. Você mesmo dava argumentos a si para se convencer de que o mal não se revelaria. E acreditava piamente que a consciência de que o mal existe, prejudicaria a mim! Esqueceu que sou o pai da mentira? Eu não temo o conhecimento da minha existência! Eu me divirto com os que se acham seguros e salvos! E o demónio dentro daquele corpo frágil ria euforicamente. -Você nunca suspeitou das histórias? Não percebeu que elas sempre continham instruções para rituais, formas de invocações, nomes de sites, de vídeos, de lugares, números de telefones, tudo para que as pessoas aprendam como chamar o mal? Quantas histórias você mesmo leu sobre pessoas que se conhecem pela Internet e um acaba por ser uma força maligna? E o que você fez? Correu para mim! 

Guilherme rezava sem parar, e chorava por piedade. Mas o tinhoso tinha razão. Ele o havia procurado. Estava nas mãos do diabo. Até hoje não se sabe o que aconteceu com o rapaz. Os pais nunca o encontraram, ou ao corpo. Dizem que ele foi arrastado direto para o inferno pelo demónio, e que de lá nunca mais sairá. Outros acreditam que ele ainda está na casa, sofrendo tortura eterna pelas mãos de Elisa. 

Seja o que for que tenha acontecido, coisa boa não foi. Aviso aos leitores: CUIDADO! O diabo ainda está por aí. Não acreditem em ninguém! O pai da mentira usará de qualquer artifício para atraí-los, e nem o mais fiel dos católicos está verdadeiramente protegido!

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