A lenda do vampiro vem de um imaginário popular das populações do leste europeu, especificamente a região englobada pela Hungria, Romênia, partes da Alemanha e da Áustria. Lá se encontram toda uma série de crenças e lendas sobre vampiros: pessoas que morreram em situação tida como periculosa (suicídio e excomunhão são duas delas), que se levantam das tumbas - geralmente insuflados por alguma entidade maligna como o demônio, e retornam ao meio social em que vivem para atormentar os vivos e fazer deles suas vítimas, sugando-lhes o sangue até a morte. Geralmente, a maneira mais acertada para identificar um vampiro e eliminá-lo era desenterrar um corpo e verificar se ele estava decomposto ou não. Caso não estivesse, era considerado um vampiro e prosseguia-se com a inserção de uma estaca de madeira no coração, desmembramento do corpo e posterior incineramento.
No
século XVIII na Europa, um amplo e extenso debate ocorreu em torno do
tema. Em parte motivados pelas constantes histórias de ocorrências
destas criaturas no leste, religiosos motivados por crises de histeria e
intelectuais inspirados pelo nascente iluminismo, dedicaram-se ao
estudo de tais casos. Talvez o que haja de maior destaque deste período
seja o tratado de Dom Augustin Calmet. Muito ligado ao crescente
racionalismo iluminista, estes debates se limitaram a considerar o
fenômeno como mera superstição ou crendices de camponeses brutos.
No
século XIX, com a ascensão do espiritismo, o vampiro é trabalhado
novamente, mas como uma figura real. Desenvolveu-se a idéia de
vampirismo psíquico. Seria este o corpo-astral de vivos ou de mortos que
teria a peculiaridade de sugar a energia vital das pessoas? Depositário
de tanta energia vital - a sua natural mais a de suas vítimas - eles
seriam identificados pela não decomposição de seus corpos quando mortos,
apresentando sinais de contínuo desenvolvimento biológico. Isto ao menos explicaria as histórias vindas do leste europeu.
Porém,
já em nosso século, um religioso anglicano e, posteriormente católico,
chamado Augustus Montague Summers (1880 - 1948) - descreveu tal criatura
de outra forma. Interessado em ocultismo, estudou bruxaria, magia,
lobisomens e, claro, vampiros. Em Oxford, se concentrou no estudo do
vampirismo, escrevendo seu primeiro trabalho sobre o gênero, chamado
“The Vampire: His Kith and Kin”, publicado em 1928. Nele Summers define
que o vampiro não deve ser entendido simplesmente como um morto-vivo. As
obras de Summers revelam-se extremamente úteis por englobar as mais
variadas informações de maneira completa e detalhada; porém, devem ser
lidas com cuidado. Como religioso, Summers acredita nos vampiros como
figuras maléficas reais a espreitarem o ser humano. Ao identificar o
vampiro em todo o mundo, iguala-o ao demônio, presente onde os “filhos
de Deus estiverem”.
Hoje
em dia, o vampiro é uma figura presente em todas as culturas, porém já
não como figura real, mas como um arquétipo; a expressão simbólica de
uma experiência elementar comum a todos os seres humanos devido a sua
biologia. A chave desta interpretação reside no conceito que é
utilizado. Se considerarmos o vampiro apenas como um morto-vivo sugador
de sangue, mais uma vez nos restringiremos à região do leste europeu
acima descrita. Porém, se transformarmos as formas em símbolos nos
apegando ao que é essencial, veremos que o vampiro pode ser uma figura
sobrenatural (divina ou maligna) que tem a peculiaridade de sugar a
“energia vital” de suas vítimas. Com este conceito, diversas figuras das
mais diferentes culturas poderão ser encaixadas no termo vampiro, como
por exemplo as figuras dos Incubus e Succubus, na Idade Média.
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