quinta-feira, 22 de março de 2012

Emresa Assombrada - Parte 2


No dia seguinte Denis chegou meia hora mais cedo para poder conversar com o guarda do dia.

“Bom dia Arnaldo, como vai?”

“Bem e você? Como foi sua primeira noite de vigia aqui?”

“Muito estranha, não quero que pense que eu sou louco, mas creio que vi coisas que não posso explicar.”

“Olha pode parar, o outro vigia noturno começou com essas histórias até que um dia saiu correndo no meio da noite e não voltou mais para trabalhar. Ligou e pediu que lhe enviassem os documentos assinar pelos correios, imagina, ele nem aqui quis voltar.”

“Ele dizia que via o espírito do doutor Flávio assombrando o prédio.” – disse a faxineira que limpava o chão por perto.

“Quem era esse homem?” – perguntou Denis.

“Para de colocar caraminholas na cabeça do Denis dona Maria, espíritos não existem.”

“Doutor Flávio era um dos donos da empresa, junto com o Maurício. Ele se suicidou aqui mesmo, as pessoas dizem que era porque a mulher o estava traindo, mas ela negou tudo. Maurício então tomou conta dos negócios até o filho do doutor Flávio, o Rodrigo, se formar e vir trabalhar aqui. Agora os dois gerenciam a empresa. Mas me conta, o que foi que você viu?” – perguntou a faxineira curiosa ignorando o pedido de Arnaldo.

“Nada de importante, deve ter sido impressão minha.” – respondeu Denis olhando o rosto desapontado de dona Maria. “Quando foi esse suicídio?”

“Doze anos atrás. Eu mesma limpei a sala depois do corpo ser retirado, eu acho que nunca chorei tanto em minha vida. O doutor Flávio era um homem generoso, foi ele que me deu o emprego e todos gostavam dele. Ninguém imaginava que um dia ele poderia fazer isso.” – disse Maria.

“Olha aqui a foto dos empregados na festa de natal do ano anterior ao suicídio. Esse era o Flávio, esse o Maurício e esse bonitão aqui sou eu.” Disse Arnaldo apontando uma foto.

Denis começou a tremer, observava a foto com terror, não somente tinha confirmado de que teria visto um fantasma, mas agora sabia da verdade sobre a terrível morte de doutor Flávio.

“Que isso Denis, parece que viu fantasma? Olha ai dona Maria, o homem esta pálido que nem papel.”

“Impressão sua e acho que já esta na hora de vocês irem.” – Respondeu Denis seriamente.

Ele sentou em sua cadeira a observar os monitores, porém sua mente estava longe, imaginando o que faria se o fantasma aparecesse de novo. E se conseguisse provas de que Maurício tinha assassinado Flávio. Iria limpar a imagem suja daquela família que a tantos anos vinha sofrendo com aquela mentira.

Denis decide ligar o rádio que até agora estava desligado por medo. Se o fantasma do doutor Flávio queria ajuda talvez se comunicasse novamente pelo aparelho.

Quando chegou a hora da primeira ronda, o vigia sentiu medo, estava aterrorizado com o fato de que poderia novamente ver o espírito do homem na janela, ainda mais com aquela ferida sangrenta na cabeça. Depois de bater o ponto confirmando sua ronda voltou-se para o prédio e para sua surpresa estava vazio. Ele sentiu um alívio, mas também ficou desapontado. “Será que me mostrei muito medroso e afugentei o espírito que precisava de ajuda?” perguntou a si.

Tentando tirar tudo da cabeça ele voltou ao seu posto. Sentou-se na cadeira e se serviu um pouco de café. Sentia-se feliz por não ter visto nenhuma assombração, talvez agora sua vida voltasse ao normal.

“Denis...” – disse uma voz masculina sussurrando bem perto de sua orelha.

O vigia saltou da cadeira deixando o café derramar em sua camisa. O medo era tanto que ele nem sentiu o café queimando sua pele. Ele olhou em volta, porém ali não havia ninguém. Os monitores e o rádio saíram do ar e somente o som e a imagem da estática apareciam. Alguns papeis que estavam por ali voaram de um lado para outro, uma sombra grande andava em sua direção.

“Me deixa em paz, eu não fiz nada para você.” – gritou Denis desesperado.

“Denis...” – repetia a voz no rádio.

Ele então correu para a porta tentando escapar do pandemônio que se formara ao seu redor. A porta que certamente não estava trancada era mantida fechada por uma força invisível. Tudo então se acalmou, Denis olhou ao redor e apesar da bagunça formada ali não via nada sobrenatural.

“Seis direita, quarenta e nove esquerda, quarenta e sete esquerda, trinta direita, nove direita.” – dizia a voz no rádio.

Denis olhou para os monitores e todos mostravam a sala de Maurício onde havia um cofre perto de sua mesa.

“Seis direita, quarenta e nove esquerda, quarenta e sete esquerda, trinta direita, nove direita.” – repetia a voz destorcida rádio.

Depois de ter anotado os números que possivelmente eram a combinação daquele cofre, ele se colocou a pensar nos riscos. O que teria naquele cofre de tão importante que um fantasma queria? O que faria se encontrasse algo?

Em um impulso levantou-se, foi até o cofre e o abriu com aquela combinação. Sentiu um calafrio e uma brisa leve passando por ele e uma das pastas que estavam dentro do cofre caiu no chão. Na capa da pasta estava escrito “Contabilidade Confidencial”. Voltando-se para a porta se assustou ao ver que o fantasma do doutor Flávio estava ali. Dando as costas o espírito saiu da sala, Denis correu a traz dele e o foi seguindo até que desapareceu na porta de um dos escritórios. O escritório era de Rodrigo, filho de Flávio. Ele entrou e decidiu que seria melhor deixar a pasta em cima de sua mesa, assim ele não teria que envolver-se quando a polícia chegasse.

No dia seguinte, Rodrigo chamou a polícia depois de analisar os papeis que comprovavam que Maurício havia roubado seu pai por anos e anos. Os policiais, agora sabendo a verdade sobre seus negócios ocultos ficaram desconfiados do suicídio de Flávio. Após horas de interrogatório e muita pressão conseguiram a confissão do assassinato.

De noite, durante sua primeira ronda depois de ter ajudado o fantasma Denis não sabia o que esperar. Quando olhou para o prédio viu o espírito novamente, este lhe acenou adeus, uma luz forte iluminou o lugar e foi diminuindo até se apagar. Denis entendeu que o espírito atormentado de doutor Flávio finalmente tinha encontrado a paz.

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